POESIA EM SALA DE AULA
Os poemas muitas vezes revelam críticas sociais sobre um determinado assunto.
Também existem muitos poemas interessantes para serem trabalhados com os alunos.
A partir de poemas lidos e interpretados o professor poderá sugerir ao seu aluno ler, interpretar, criar e recriar poemas. Esta atividade desenvolve no aluno a capacidade de pensar e expressar seu pensamento.
A seguir destaco o que a pedagoga Miriam Mermelstein fala sobre a poesia em sala de aula.
A autora fala das dificuldades em trabalhar com poesia em sala de aula e chama a atenção para a
importância de resgatar o sentido que a poesia possuía na antigüidade, quando cumpria múltiplas
funções como ritual, entretenimento, enigma, profecia, filosofia e competição. “É na atividade criativa
com a língua que a criança constrói formas originais de ver o mundo (...) O aluno entra em contato com
os recursos estilísticos da poesia para reconhecer, interpretar e criar”.(Miriam Mermelstein)
reportagem na íntegra:
http://www.crmariocovas.sp.gov.br/lei_a.php?t=020#artigo
POETA: MANUEL DE SOUSA
Poeta angolano, muito atuante na internet . Ele usa esse recurso para difundir seus poemas e textos de sentido crítico e social.
“Mandela Madiba”
Prenderam-no
Humilharam-no
Encarceram-lhe o corpo
Mas não conseguiram reter-lhe a alma
Não foram capazes de retirar-lhe o amor do coração
Foram impotentes para o desmotivar
Incapazes de lhe impor ódio e raiva
Pois ele foi sempre digno…
Manteve-se firme em seus nobres desígnios
Forte em seu caminho para a liberdade
Fixo em seus objectivos para atingir a igualdade
Mostrou grande exemplo de dignidade a todos
Tornou todos iguais perante a lei
Demoliu as diferenças de direitos
Foi líder e pai de uma nova nação arco-íris
Ensinou a tolerância e a liberdade a uns e outros
Perdoou a quem o trancou e privou do Mundo exterior…
Transformou a terra comum em esperança e justiça
Abriu as paredes e o arame farpado à democracia
Abraçou a todos sem distinção de cor ou poder
Cantou um novo hino da alegria de uma pátria renascida
Celebrou o início de uma nova era da humanidade
Deixou que a festa fosse dançada em espírito de paz nacional
Deu as mãos a todos os seus compatriotas e juntou-se-lhes
Criando uma nova nação movida pela unidade
Ele é um herói e pertence agora a todos nós…
Viva para sempre em nossos peitos o Madiba…da África…Livre
Escrito em Luanda, Angola, por Manuel de Sousa, a 31 de Maio de 2007, em Homenagem ao passado Dia de África e a todos que dela são filhos, sejam de sua natureza materna ou de adopção ou opção, e todos os seus amigos (esses que, ainda são muitos pelo Mundo fora…)…
“A Parede Meias…”
Atirar-me-ei à parede
Jogarei primeiro os olhos
Chocarei nela com toda a força
Tentarei derrubar a resistência da matéria
Fluirei em direcção à estratosfera
Evitarei abrir as asas em demasia
Irei ao ápice da realidade absoluta
Tomarei medidas resolutas para não desistir
Lerei desobrigado e desabrigado qualquer palavrinha solta
Interpretarei pequenos e profundos significados enigmáticos
Apanharei barcos fantasmas que naveguem perdidos e à toa
Farei parte da tripulação mais invisível e indelével possível
Tocarei em qualquer superfície oca empíricos ritmos
Passarei a mão pelas cordas com a roupa lavada à máquina
Levantarei tantas poeiras e pós do passado quanto necessário
Tomarei qualquer boa virtude boca abaixo com um copo de água
Soprarei flautas e trompetes até me cansar
Apitarei o apito de chamada para o recreio
Serei o primeiro a pular à corda e a jogar à cabra cega
Levarei tudo com prazer e satisfação excepcionais
Içarei véus e lenços ao cume do monte das oliveiras
Pendurá-los-ei à volta do pescoço de uma girafa faminta
Farei deles símbolos de uma visão quase caótica
Rirei de pernas para o ar e rebolarei sem parar
Cantarei hinos à alegria para me livrar de alergias eventuais
Serei transportado a épocas distintas e vazias da realidade abstracta
Passarei a ler livros sem fim e nunca iniciarei pelo princípio de nada
Estarei pronto para qualquer meta ou para cortar fitas sucessivas
Mandarei o tempo dar uma volta a si mesmo
Enrolarei as questões mais difíceis a um poste ensebado
Atirarei de propósito todas as setas virtuais ao ar
Deixá-las-ei cair de forma desorganizada e dispersa
Criarei raízes para novas árvores e para outras esperanças
Lavarei o deserto com um esfregão cheio de germes da vida
Distribuirei a mensagem do génesis aos cantos do Globo
Porei em marcha as forças indeléveis do globalismo edificante…
Construirei paredes meias e civilizações no interior de mim mesmo
Edificarei novas faces nas reflexões que vejo ao espelho pela manhã
Mudarei semblantes e encantamentos cantando durante o banho
Semearei sementes de caras mais sorridentes e positivas pelas ruas da urbe…
Escrito em Luanda, Angola, a 30 de Maio de 2007, por manuel de Sousa, em Dedicação à Culturização Global da Humanidade, na esperança de que isso a venha a tornar, talvez num futuro próximo, menos xenófoba e mais humanizada, partilhadora, tolerante, homogénea e cosmopolita, em sua maneira de aceitar e compreender uns e outros, seja qual for filosofia ou origem!...
“Deus É Simplesmente Deus”
Deus nem é negro nem branco
Deus simplesmente é Deus
Deus é todas as cores do arco-íris juntas
Deus é cada coisa do Universo
Deus é tudo ao mesmo tempo
Deus é a maravilhosa diversidade
Deus é magia e imaginação
Deus é abstracção e a realidade plenas.
Deus somos eu e tu
Deus é o vento e a água
Deus é a terra e fogo
Deus é o Sol e as Estrelas
Deus é o Pensamento e a Alma
Deus é o corpo e o Ser
Deus é a Eternidade
Deus é a Mãe e o Pai
Deus é o Céu e Existência
Deus é as trevas e a Luz
Deus é tudo o que é visto e visualizado
Deus é o meio e a continuidade
Deus é a Vida e o amor que temos por ela
Deus é a sensibilidade e a arte de aprimorar
Deus é a inspiração e a criatividade
Deus é o invisível feito visível
Deus é a matéria prima em evolução
Deus é a busca constante pela perfeição
Deus é Paz Profunda e reflexão
Deus é Juízo sensato e consciente Paixão
Deus é equilíbrio e Inteligência
Deus é a infinita Eternidade…
Escrito em Luanda, a 25 de Maio de 2007
“Incomum Liberdade Espiritual Comum”
Não preciso de chefes
Não necessito de comandantes
Abdico de orientadores impostos
Quero respirar o ar fresco da liberdade de pensamento
Quero caminhar sem barricadas ou entraves artificiais
Desejo ser um Ser pleno e sem livre-arbítrios obrigatórios
Desejo seguir o regime do pré-destino determinado
Apetece-me pôr os pés nas marcas preconcebidas
Apetece-me ir atrás conscientemente da Consciência Cósmica
Quero ser iluminado por todos os raios de Sol
Quero que a clareza da Luz me penetre o cérebro
Desejo deixar de ser servo físico da mentalidade materialista
Desejo acabar com o efeito imitativo do papagaio robô
Apetece-me correr pelos campos e pelo Interior em paz
Apetece-me observar todos os detalhes e símbolos da Vida
Quero passar a servir a Humanidade sem ser servil contudo
Quero contribuir para a evolução do colectivo comunitário
Desejo perceber e entender a generalidade dos processos existenciais
Desejo estar sempre a aprender e a descobrir novos conceitos
Apetece-me saborear com prazer o verdadeiro sabor das frutas silvestres
Apetece-me sentir o bom odor das flores do campo ou dos jardins
Posso tudo fazer sem chefes
Posso andar em ordem sem comandantes
Desprezo a usual filosofia educativa da subserviência
Viva a liberdade de ver, ouvir, sentir e de constatar…a fobia do Conhecimento…
Escrito em Luanda, Angola, a 28 de Maio de 2007, em Homenagem a todos aqueles que seguem pelo Mundo, a forma e a maneira de estar conscientes de/da Vida…
Agostinho Neto
O choro durante séculos
nos seus olhos traidores pela servidão dos homens
no desejo alimentado entre ambições de lufadas românticas
nos batuques choro de África
nos sorrisos choro de África
nos sarcasmos no trabalho choro de África
Sempre o choro mesmo na vossa alegria imortal
meu irmão Nguxi e amigo Mussunda
no círculo das violências
mesmo na magia poderosa da terra
e da vida jorrante das fontes e de toda a parte e de todas as almas
e das hemorragias dos ritmos das feridas de África
e mesmo na morte do sangue ao contato com o chão
mesmo no florir aromatizado da floresta
mesmo na folha
no fruto
na agilidade da zebra
na secura do deserto
na harmonia das correntes ou no sossego dos lagos
mesmo na beleza do trabalho construtivo dos homens
o choro de séculos
inventado na servidão
em historias de dramas negros almas brancas preguiças
e espíritos infantis de África
as mentiras choros verdadeiros nas suas bocas
o choro de séculos
onde a verdade violentada se estiola no circulo de ferro
da desonesta forca
sacrificadora dos corpos cadaverizados
inimiga da vida
fechada em estreitos cérebros de maquinas de contar
na violência
na violência
na violência
O choro de África e' um sintoma
Nos temos em nossas mãos outras vidas e alegrias
desmentidas nos lamentos falsos de suas bocas - por nós!
E amor
e os olhos secos.
(Poemas, 1961)
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